Cedo percebi que a minha vocação não seria reproduzir aquela arte das minhas bisavós, avós e tias. O processo criativo falava mais alto e era aí que gostava de estar. Fazia desenhos e imaginava tanto para Bordar como para fazer roupas, já que a minha mãe era costureira. Queria fazer aquilo que não era normal e pré-definido. Muitas vezes este meu estado inquieto face às coisas, tornava-se um incómodo. À primeira tentativa tudo me era recusado, mas a teimosia fazia persistir a minha ideia e lá me faziam a vontade, alterando moldes e desenhos. Quase sempre o meu resultado era elogiado.
Alguns chamam-lhe bicho carpinteiro. Eu chamo-lhe sede de mudar e de provocar mudança à minha volta.
Sempre que apresento as Jóias artesanais com Bordado Madeira surge a pergunta?
Como nasceu esta ideia? E porquê uma jóia?
E foi assim:
A ideia nasceu das memórias da minha infância.
Das memórias que guardei enquanto brincava à volta dos bordados das minhas avós e tias.
A transformação da ideia em jóia, essa, foi um processo mais complexo e não tão simples como uma memória. Foi surgindo como resposta a um passado que se estava a perder e com o qual as gerações mais novas não estavam a ter contacto.
Nasce com uma missão:
Preservar e enaltecer o Bordado Madeira equanto Património que é a Hístória e Cultura de um povo.
Retirá-lo das gavetas e fazê-lo "saltar" para o dia a dia das pessoas, e para que estas o possam levá-lo ao peito pelo mundo fora.
Com o compromisso de guardarem a genuinidade dos materiais e da técnica. O savoir faire dos ancestrais, numa combinação feita à luz das novas tendências.
Este é o meu olhar e a minha homenagem ao Bordado Madeira.
Inserida numa família que se dedicava ao bordado da madeira como fonte de rendimento, as tardes eram passadas a bordar. As bordadeiras juntavam-se na casa umas das outras para que fosse mais fácil a tarefa. Lembro-me de pedirem opinião umas às outras, pois as mais novas sempre aprenderam com as mais velhas e a qualidade do bordado era importante para continuarem a receber mais trabalhos. E até mesmo as tarefas eram por vezes repartidas, pois umas sabiam preparar melhor o preenchimento, outras o acabamento e o trabalho saía mais perfeito. Lembro-me de me ensinarem a enorme importância de ter o lado do avesso tão perfeito como o lado direito. Eram tardes de aprendizagem, de uma vida não muito fácil, mas levada com muita dedicação e profissionalismo. São as minhas artesãs, as que sempre me inspiraram e a quem dedico o projeto MUDAME. Senhoras verticais na sua vida pessoal e artesanal e que levavam a importância da perfeição do avesso e do direito a todas as áreas da sua vida.
Maria a minha Avó Materna, artesã de bordado Madeira.
Rosa a minha Avó Paterna. Artesã de bordado Madeira.
Cedo percebi que a minha vocação não seria reproduzir aquela arte das minhas bisavós, avós e tias.
O processo criativo falava mais alto e era aí que gostava de estar.
Crafted by Navega Bem - Web Design